Relatório Vindima 2021
O ano vitivinícola de 2021
Relatório Vindima 2021
O ano vitivinícola de 2021
O Inverno do ano vitícola 2020/2021 foi frio com excepção do mês de Fevereiro, altura em que a precipitação foi particularmente elevada relativamente às normais climatológicas (NC). A Primavera ficou marcada por um clima ameno, mas com um nível de precipitação ligeiramente superior à NC, sobretudo em Abril, o que permitiu repor os níveis de água no solo, essenciais para a região do Douro.
Junho registou grande instabilidade ao longo do mês com ocorrência de trovoadas, queda de granizo em alguns locais da RDD, mas sem registo de prejuízos nas nossas quintas. O Verão, por sua vez, manteve-se seco com Julho e Agosto sem ocorrência de precipitações.
O ciclo vegetativo iniciou-se com um ligeiro avanço em relação à média da região, mas que foi rapidamente anulado após a floração, recorda Márcio Nóbrega responsável de Viticultura da Sogevinus. A incidência de doenças e pragas não apresentou especial significado, tendo sido sempre possível recorrer a práticas sustentáveis para manter as vinhas em perfeitas condições.
A vindima iniciou-se em Agosto, com tempo seco e temperaturas moderadas, que proporcionaram maturações graduais. No entanto, a precipitação no início de Setembro, aliada às temperaturas amenas que se fizeram sentir, abrandaram significativamente o ritmo de maturação das uvas.
No universo das Quintas da Sogevinus, a precipitação do dia 1 de Setembro registou-se apenas na Quinta do Bairro, no Baixo-Corgo. Já as chuvas de 14 a 23 de Setembro atingiram toda a região. Este cenário aliviou a normal pressão de corte de uva e permitiu à equipa de viticultura e enologia algum tempo para reorganizar a logística das equipas de vindima garantindo assim a seleção do melhor fruto. As uvas que deram entrada nas nossas adegas apresentaram um excelente estado sanitário.
Foi, neste seguimento que, no dia 1 de Setembro, decidimos abrir as portas da nossa adega de São Martinho de Anta para receber as primeiras uvas para a vinificação dos vinhos do Porto, provenientes das cotas mais baixas das quintas na sub-região do Douro Superior, explica o enólogo.
A campanha 2021 fica marcada pelo ritmo irregular da maturação das uvas que originou níveis de açúcar ligeiramente baixos proporcionando o cada vez mais importante alinhamento e proximidade com as equipas de viticultura para determinar com rigor a data ótima de vindima como fator critico na qualidade dos vinhos, refere Carlos Alves, enólogo responsável pelos Vinhos do Porto da Sogevinus.
Cronologicamente, em meados de Agosto, deparamo-nos com ritmos de maturação diferentes inclusivamente na mesma videira, o que despoletou um atraso do início da vindima face aos últimos anos mas as chuvas que ocorreram no final desse mês e a instabilidade climática do período que se seguiu, anularam este atraso tendo-se antecipado o inicio do corte da uva.
As uvas colhidas antes do maior período de pluviosidade resultaram em mostos mais concentrados na cor e no aroma, contrastando com a restante vindima vincadamente marcada por vinhos mais frescos e elegantes, qualidades que definem, na opinião de Carlos Alves, a vindima 2021. Os mostos caracterizam-se, no caso dos brancos, pela sua frescura e riqueza aromática. Já os tintos destacam-se pela sua elegância em termos de aromas e sabores.
Relativamente à performance das castas, o blend da Touriga Nacional, Touriga Franca e alguma Tinta Roriz permitiu produzir Vinhos do Porto com pergaminhos de excelente qualidade. Relativamente às castas brancas, destacamos o Viosinho que, em 2021, deu origem a vinhos frescos e densos, e a Malvasia Fina que, devido aos níveis de açúcar mais elevados, contribuiu para vinhos mais estruturados.
Apesar de ter sido uma vindima difícil estamos bastante satisfeitos com os vinhos produzidos. Ainda é cedo para avaliar a qualidade obtida pois os vinhos do Porto necessitam dos Invernos rigorosos do Douro para então aí sim mostrarem todo o seu potencial. No entanto e, até ao momento, acho que os vinhos produzidos irão primar pela elegância em detrimento da estrutura e serão certamente vinhos que devido a sua acidez natural irão envelhecer muito bem, predicados essenciais para excelentes vinhos, salienta Carlos Alves
Ao nível da adega 2021 fica também marcado pela renovação e atualização dos nossos processos de vinificação com o investimento em novos equipamentos e melhoria de todo o fluxo operacional focados em manter e potenciar a qualidade das nossas uvas e preparar-nos não só para os desafios atuais, mas para os novos que se avisam do qual destacamos as mudanças climáticas.
Na maior parte das castas, a vindima 2021 ficou marcada por uma janela de maturação mais alargada em relação aos anos anteriores, como resultado das temperaturas baixas acompanhadas de dias de chuva que assolaram a região. O acompanhamento atento parcela a parcela, bem como o controlo permanente do estado de maturação das uvas foram factores fundamentais para obtenção de vinhos com elevado potencial qualitativo.
Tendo em conta que o ponto ótimo de corte é factor-chave para a qualidade dos vinhos é importante realçar que a instabilidade climática sentida nos meses que precederam a vindima – originando um ritmo mais lento e desalinhado nas maturações – despoletou um replaneamento ainda mais detalhado do plano de corte de uva por quinta, ponderando um conjunto de outros fatores como a garantia de conservação da qualidade da uva após colheita, através uma logística adaptada e personalizada a cada casta, localização da própria quinta e o perfil de vinho pretendido. É cada vez mais desafiante e motivante o cuidado e o investimento para “melhorar o detalhe” num conjunto de fatores como por exemplo o cuidado no corte e movimentação até à adega ou a personalização através da vinificação de pequenos lotes por casta, talhão e sub-região, salienta Ricardo Macedo, o enólogo responsável pelos DOC Douro da Casa Burmester e de São Luiz.
De forma geral, os vinhos tintos da vindima 2021 apresentam-se mais frescos e com boa cor. Os teores alcoólicos foram ligeiramente inferiores aos anos anteriores originando vinhos equilibrados com bom tanino e que, nesta fase, já se mostram muito suaves e cremosos, o que nos faz antever vinhos de boa qualidade, salienta Ricardo Macedo.
Ao nível de castas, a Touriga Nacional revela-se fresca e aromática com notas de flor de laranjeira e violetas. Em boca destaca-se pela sua delicadeza e finesse. Já a Tinta Roriz apresenta um lado mineral muito interessante, uma boa acidez e fruta fresca. No caso da casta Sousão resultaram vinhos retintos, encorpados e aveludados em boca. Destaca-se ainda a performance da Touriga Franca, proveniente das zonas mais quentes, com bagos um pouco superior aos anos anteriores e uma produção mais estável por planta, o que proporcionou vinhos com uma bela estrutura e cor vibrante, conferindo-lhe um corpo sério, com notas frutadas e florais, como a amora e flores de rosas. Por fim, das nossas Vinhas Velhas da Quinta de São Luiz nasceram vinhos de cor vibrante, com uma identidade muito própria, característica das diferentes cepas que lhes estão na origem. Vinhos equilibrados, com excelente estrutura e boa acidez.
Em relação aos brancos que resultaram da campanha de 2021, temos, de um modo geral, vinhos mais frescos e frutados. De salientar que as uvas provenientes das cotas mais altas originaram vinhos com boa fruta e acidez alta, de uma forma geral, refere o enólogo. Particularizando, a casta Folgazão demonstra uma boa estrutura, bem como complexidade aromática e frescura, mantendo, contudo, a sua tradicional elegância. Já no caso do Viosinho encontramos um equilíbrio perfeito entre açúcar e acidez, o que proporciona vinhos estruturados, encorpados, com bons teores alcoólicos, muito florais e com ligeiras notas de anis e pêssego. A Malvasia Fina apresenta algumas notas de fruta tropical, maracujá e ananás. Já no caso do Gouveio, resultou em vinhos com boa estrutura e complexidade e fruta fresca tipo damasco. A casta Fernão Pires revela estrutura a par de compostos aromáticos fortes, como fruta cítrica, laranja e ligeiras notas de flor de tília. Uma das últimas castas brancas a ser vindimada foi, uma vez mais, o Arinto de vinhas a 500 metros de atitude que resultou em vinhos com uma acidez bem vincada e uma forte mineralidade, elevando as notas de fruta fresca tipo maçã verde, limão e ao mesmo tempo algumas nuances de maracujá que está menos presente este ano.
Na Quinta da Boavista o ano vitícola de 2020/2021 ficou marcado por temperaturas moderadas registadas no período Primavera/Verão, sem grandes oscilações e com poucos dias consecutivos a registar valores superiores a 35ªC. Este factor aliado a condições hídricas satisfatórias antevia, no início de Agosto, uma maturação equilibrada.
Os primeiros resultados do controlo de maturação feitos na Quinta da Boavista foram concordantes com essa previsão. As amostras demonstravam grainhas com taninos suaves, películas com bons percursores aromáticos e polpa com boa acidez e concentrações de açúcar espectáveis.
Começamos então a vindima nesta quinta a 26 de Agosto com a colheita das castas brancas Arinto e Viosinho seguindo-se o corte do Donzelinho Tinto. Os respectivos mostos revelaram-se bastante equilibrados: os brancos frutados e muitos frescos, o Donzelinho Tinto com boa estrutura, tanino bem presente, mas polido.
A programação da vindima das restantes castas tintas obrigou, contudo, a alguma ponderação. O final de Agosto/ início de Setembro trouxe temperaturas amenas com alguma precipitação, sendo que as previsões apontavam para essa instabilidade climatérica condicionando, portanto, todo o processo de finalização da maturação das uvas. Neste ponto, a equipa de enologia e viticultura valeu-se dos vários anos de experiência e do resultado das várias amostragens de controlo de maturação para reprogramar a vindima, sempre com o objectivo de receber na adega uvas com o máximo de qualidade.
Recomeçamos, portanto, a vindima no dia 8 de Setembro com o corte da Touriga Nacional da parcela com maior exposição a sul. Seguimos para as Vinhas Velhas do Oratório e do Ujo. Seguiu-se o Alicante Bouschet para depois regressar à Touriga Nacional de uma cota mais alta. Terminamos a vindima na Quinta da Boavista a 14 de Setembro com o corte da Touriga Franca, altura em a chuva voltou ao Douro.
O sistema de escolha e processamento da uva implementado na adega permitiu assegurar o nível de qualidade aos mostos obtidos, selecionando o melhor do melhor para a fermentação, salienta Carla Tiago, responsável pela enologia dos vinhos da Quinta da Boavista.
Demostrando uma boa complexidade, os vinhos obtidos primam pela frescura e pela elegância. Os Vinhas Velhas distinguem-se pela sua amplitude, a Touriga Nacional pela exuberância, o Alicante Bouschet pela matriz fresca e frutada e a Touriga Franca pela riqueza da sua estrutura.
