Dado o longo período de amadurecimento deste ano, a atenção aos detalhes em cada parcela e o monitoramento rigoroso da maturação das uvas foram fatores-chave para a obtenção de vinhos com grande potencial e bela frutificação
Márcio Nóbrega, Head of Viticulture at Sogevinus Fine Wines
O ano vitícola 2018/19 apresentou um Inverno seco e frio, com níveis de precipitação mais baixos face à Normal Climatológica (NC). Novembro foi a única excepção, com valores acima da média.
A Primavera surgiu quente e seca, à excepção do mês de Abril em que a precipitação foi ligeiramente superior à NC. A quase ausência de chuva entre Maio e o final do Verão (na Quinta de S. Luiz, na sub-região do Cima- Corgo, os níveis de precipitação foram de -30% face à média) não foi, contudo, dramática uma vez que as temperaturas registadas foram ligeiramente abaixo do normal, com as máximas sempre inferiores aos valores dos últimos anos.
As amplitudes térmicas registadas em Agosto e Setembro foram bastante favoráveis à maturação das uvas. A ausência de chuva acompanhada das temperaturas altas, normais na Região do Douro, a par de noites frescas contrastaram com os excessos verificados nos Verões dos últimos anos.
O ciclo vegetativo iniciou-se na 2ª quinzena de Março, mantendo-se sempre em linha com os valores médios para a região. A problemática de doenças e pragas para o ano 2019 não apresentou especial significado uma vez que as condições meteorólogas foram sempre desfavoráveis ao aparecimento de doenças.
A vindima iniciou-se com tempo seco e temperaturas moderadas, que proporcionaram maturações graduais. Ao fim de um mês de vindima, a fraca precipitação de 21 e 22 de setembro motivou uma pequena pausa, o que permitiu a finalização da maturação de algumas parcelas. As uvas apresentaram um estado sanitário ótimo.
Dado o longo período de amadurecimento deste ano, a atenção aos detalhes em cada parcela e o monitoramento cuidadoso da maturação das uvas foram fatores-chave para a obtenção de vinhos com grande potencial e belos frutos.
Ricardo Macedo, enólogo responsável pelos vinhos tranquilos Sogevinus Fine Wines
A vindima na Quinta de S. Luiz começou a 22 de Agosto e terminou a 24 de Setembro.
A casta Viosinho, proveniente da cota mais baixa da quinta de S. Luiz, a 200 m de altitude, cujas análises de controlo de maturação apresentavam já bons teores de álcool e excelente acidez, marcou o arranque desta vindima.
Cerca de duas semanas mais tarde, a 5 de Setembro, iniciou-se a vindima de uvas tintas na Quinta de S. Luiz. As Vinhas Velhas plantadas nas cotas mais baixas da quinta foram as primeiras parcelas a serem vindimadas. Já a Touriga Franca, proveniente das cotas a 250 metros, marcou o fim da vindima na Quinta de S. Luiz, a 24 de Setembro.
Na Quinta do Arnozelo, situada no Douro Superior, iniciamos a vindima das uvas brancas a 28 Agosto, com a casta Viosinho. As uvas tintas começaram a ser vindimadas a 6 de Setembro com a casta Touriga Nacional proveniente das quotas mais baixas.
Com as maturações a ocorrerem num período mais longo de forma desfasada em todas as castas e sub-regiões, foi necessário programar um acompanhamento constante dos diferentes talhões nas 3 Quintas, para que os trabalhos de corte, transporte e recepção na adega permitissem cuidar a uva no seu estado óptimo, extraindo todo o potencial do terroir. O controlo constante do grau de maturação das uvas permitiu-nos uma vinificação cuidada e controlada para que o fruto fosse preservado no seu exponencial.
Em prova, os vinhos tintos deste ano apresentam-se com bom corpo, cor e uma excelente acidez. Os teores alcoólicos foram um pouco inferiores ao ano anterior, originando vinhos muito equilibrados com bons taninos, muito suaves e cremosos, o que nos deixa antever a produção de vinhos de qualidade superior.
A Touriga Nacional revela-se fresca e aromática com notas de flor de laranjeira e violetas, e muito delicada e elegante em boca. A Tinta Roriz, por sua vez, apresenta-se muito mineral, com acidez e fruta fresca. O Sousão, vindimado mais cedo, exibe-se retinto, encorpado e muito aveludado na boca. De salientar o excelente comportamento da Touriga Franca em 2019. As altas temperaturas, aliadas ao baixo nível de água no solo, permitiu que esta casta apresentasse o esplendor da generosidade da sua fruta.
As Vinhas Velhas da Quinta de S. Luiz originaram vinhos muito equilibrados em termos de álcool e acidez, o que proporcionou vinhos com uma bela estrutura e cor vibrante, conferindo-lhe um corpo sério, com notas frutadas e florais, fazendo lembrar amora e flores de laranjeira.
Em relação aos brancos temos de um modo geral vinhos frescos, frutados e com uma boa boca. A Malvasia Fina apresenta algumas notas de fruta tropical, maracujá e ananás, muito presentes também no Cercial. O Folgasão revela-se com uma estrutura surpreendente e com notas muito frescas, mineral e frutado. No Viosinho encontrámos um equilíbrio perfeito entre açúcar e acidez, o que proporcionou vinhos estruturados, encorpados, com bons teores alcoólicos, muito florais e com ligeiras notas de anis, pêssego e flor de tília. O Gouveio surge rico na estrutura e com bons compostos aromáticos, fruta cítrica, a lembrar laranja e ligeiras notas de panificação. As últimas castas brancas a serem vindimadas foram o Rabigato e o Arinto das vinhas mais altas (550 metros de atitude), que nos presentearam com vinhos de acidez bem presente, cor citrina, com uma forte mineralidade, salientando apontamentos de maçã verde, limão e algumas notas de maracujá.
“Com o Inverno a chegar, os vinhos brancos começam a revelar-se enquanto que os tintos ainda estão a finalizar a fermentação maloláctica. Em adega temos vinhos com excelente estrutura, perfumados, muito frescos, com bons percursores de envelhecimento que perspetivam um futuro muito promissor para os vinhos da vindima de 2019”, sintetiza Ricardo Macedo.
“Assolado pela escassa mão-de-obra, a vindima de 2019 recompensou o esforço e o trabalho árduo na adega com vinhos muito frescos, aromáticos e de grande intensidade corante.”
Carlos Alves, enólogo responsável pelos Vinhos do Porto Sogevinus Fine Wines
A vindima proporcionou-nos uvas sãs, com um estado de maturação equilibrado entre os açucares e os ácidos, não sendo 2019 um ano de elevada concentração de açúcar nas uvas.
Nos Vinhos do Porto, os mostos revelam-se frescos, aromáticos, com tanino assertivo e de grande intensidade corante. No comportamento por castas destaca-se a Touriga Franca pela sua concentração em cor e aromas de fruta negra, a Touriga Nacional pela elegância e o Sousão pela intensidade corante e frescura irrepreensível.
“Esperamos agora pelos Invernos rigorosos do Douro para que os vinhos demonstrem o seu potencial, mas atrevo-me a dizer que estamos perante um dos melhores anos da década depois dos anos clássicos de 2011, 2016 e 2017”, refere Carlos Alves antevendo uma nova chama no sector.